Sem qualquer conotação política pode dizer-se que há uma fronteira entre as duas gerações: o 25 de Abril de 1974. Há uma Geração 74, que nasceu antes dessa data, e uma Geração 75, que nasceu depois e que começou a entrar no mercado de trabalho nesta última década, após a conclusão da licenciatura.
Muitos analistas já escreveram sobre esta mudança geracional. Uma das análises mais polémicas foi o editorial “Geração Rasca”, de Vicente Jorge Silva, publicado em 1994 no Público, por altura das manifestações estudantis contra as políticas educativas, em especial contra o aumento das propinas pelas universidades.
No editorial, Vicente Jorge Silva olhava para os jovens com desconfiança. Para ele, um representante da geração revolucionária, a Geração 75 não tinha convicções, valores, princípios e sonhos para lutar. Em síntese, o seu editorial reflectia a visão de alguém, que tinha lutado por causas e feito uma revolução, que considerava que a nova geração era constituída por jovens irresponsáveis, indisciplinados e individualistas.
Passadas três décadas, o que mudou? Hoje, a Geração 74 está confortável, conquistou o seu lugar ao sol, tem segurança de emprego e está em vias de se reformar ou já se reformou aos 55 anos. Por outro lado, a Geração 75, que cresceu com a sida e a droga, não sabe como conquistar o seu lugar ao sol. O futuro está nublado com o espectro do desemprego e do trabalho precário. É uma geração que parece condenada ao estatuto de eternos adolescentes que têm de viver em casa dos pais.
Neste contexto, em que os revolucionários de 74 não estão dispostos a ceder o seu lugar ao sol aos jovens, o aumento da idade da reforma traz dificuldades acrescidas. Se é verdade que a Geração 74 fez a revolução de Abril tendo lutado pela liberdade, pela abolição da censura e pelo fim da guerra colonial, também é verdade que deixa uma herança pesada. A Geração 75 tem pela frente uma tarefa hercúlea: além de enfrentar um futuro instável e adverso, com o anunciado fim do emprego, das regalias sociais e das reformas, ainda tem de pagar o défice público, emagrecer o aparelho do estado, evitar a falência da segurança social e garantir a sustentabilidade ambiental de Portugal.
Não é pois de estranhar que os jovens retribuam o epíteto “Geração rasca” àqueles que, por acção ou omissão, lhes deixaram tão pesada herança. Eles são, de facto, uma “Geração à rasca”.
“Pai -Na tua idade, já tinha um ideal!
Filho: E, então, vendeste-o a quem?”